quarta-feira, 21 de outubro de 2009

PERFIL-Samuel Seibel, dono da Livraria da Vila



Momento de Decisão


Certa noite, passeando em Ipanema, no Rio, o paulistano Samuel Seibel, filho de um imigrante polonês, resolveu tomar um café em um lugar que era, também, uma livraria. Ao passar pela porta, soube, na hora, que o seu destino, encoberto até aquele momento, era ser livreiro. Aos 48 anos, deixou a empresa da família e assumiu a Livraria da Vila, no bairro da Vila Madalena, em São Paulo, a primeira de uma rede de quatro lojas. O empresário virou referência no mercado e não tem medo da internet, que, na sua opinião, vai complementar e até aumentar o mercado de livros, em certos segmentos.

“Se, futuramente, as novas tecnologias forem tão fortes que as pessoas deixem de ir à livraria, ao cinema, para ficar em casa e não enfrentar o trânsito, então não é a falência do negócio do livro, é a falência da sociedade”, diz. “Mas como sou otimista em relação ao mundo, não acredito que vá acontecer esse desastre.” Ele espera que a internet e os livros eletrônicos atinjam em maior medida um público que não é o do frequentador da livraria, “não é aquele que não abre mão de abrir o livro, adormecer com ele na barriga, olhar a primeira página”. Na opinião do livreiro,“se houver uma perda, num primeiro momento, ela será menor do que o ganho”.

Para Seibel, as livrarias físicas são uma exigência social, parte da necessidade das pessoas de se encontrarem e se sentirem parte do mundo, como os cinemas. E as lojas da Livraria da Vila, explica ele, estão a serviço dessa ideia de experiência coletiva, com sofá, espaço para para crianças, café, auditório.

O dono da Livraria da Vila defende o fortalecimento do mercado por meio do respeito às especificidades da cadeia do livro. “É preciso que as editoras canalizem para as livrarias os pedidos que recebem. Está errado vender direto, mais ainda com desconto. Se a livraria é o principal canal de vendas de livro, deveria haver coerência nesse sentido. O site pode direcionar a compra para lojas parceiras, em que a editora confia e que vão ter o livro”, explica.

Ele também é favorável ao mecanismo de um preço único para todo o país, proposto pela Associação Nacional de Livrarias a parlamentares e que prevê um limite para os descontos sobre o valor de capa dos livros. “Moralizaria uma certa conduta do mercado em termos de preço”, argumenta.

Cena de filme
Samuel se formou em Jornalismo, profissão que exerceu por dez anos, até ser convidado pelo irmão para trabalhar na fábrica da família (de produtos para o setor moveleiro), onde ficou por 20 anos. A trajetória foi interrompida de repente, após uma visita ao Rio de Janeiro, onde foi para correr uma meia maratona. No sábado à noite, após jantar com a mulher, Débora, saiu à procura de um lugar para tomarem um café. E achou a livraria Renovar, recém inaugurada, que também era uma filial da Confeitaria Colombo. Entraram.

“Se fosse um filme, a cena seria descrita assim: conforme eu fosse entrando, viria uma luz branca sobre mim. Parei, fiquei olhando – e era como se uma harpa tocasse... Falei para a Débora: é isso que eu quero fazer da vida”, lembra Samuel. No final de 2002, Samuel selou o acordo de compra da Livraria da Vila. No dia três de janeiro de 2003 realizou seu projeto.“Impressionante como, diante de uma decisão com essa força, as coisas acontecem e conspiram favoravelmente.”

Tanto na virada profissional, quanto na opção pelos livros, o empresário identifica influências do pai, Bernardo, judeu que veio da Cracóvia para o Brasil em 1925, aos 14 anos. Morou no Rio, em Salvador, Ilhéus, até abrir seu negócio na rua do Gasômetro, no bairro paulistano do Brás. Foi amigo de Jorge Amado, com quem conviveu na Bahia. “A lembrança do meu pai é de uma pessoa que tinha no livro um prazer muito grande”, diz. Além disso, Samuel observa que o pai também teve a chance de fazer alguma coisa sua com quase 50 anos, numa época em que, nessa idade, as pessoas já estavam se preparando para parar.

“A livraria da Vila, para mim, é principalmente um ponto de encontro, um pólo cultural. E o acervo tem de ser pensado, para não ter só lançamentos. Fazemos questão de trabalhar com as editoras independentes. O catálogo de um grupo como a Libre, nesse sentido, é absolutamente natural.” Atualmente, a rede cresceu e ganhou áreas par vendas de CD e DVD, sempre na mesma proposta, além do café e do auditório. A programação, contudo, é, segundo ele, “99,9% vinculada à literatura, ao cinema e à música; e, desses 99,9%, 97% à literatura.” Foi preciso um ano de insistência, somado aos trabalhos de divulgação, para consolidar o público dos eventos. A participação da Livraria da Vila como livraria oficial da Flip-Festa Literária de Paraty, desde 2004, foi outro importante reforço para a marca.

Raio-X
Livraria da Vila da Fradique -- 900 m², 150 mil livros (90 mil títulos) e 15 mil CD’s e DVD’s
Livraria da Vila no Itaim Bibi/Casa do Saber -- 200 m², 40 mil livros (25 mil titulos) e 3 mil CD’s e DVD’s
Livraria da Vila da Lorena – mil m², 200 mil livros (120 mil títulos) e 30 mil CD’s e DVD’s
Livraria da Vila do Shopping Cidade Jardim – 2,5 mil m² e 150 mil títulos

Um comentário:

  1. Fico muito feliz ao ler trajetórias pessoais como a do Sr. Samuel.
    Eu ainda alimento um sonho de um dia poder criar a minha própria livraria ou sebo ou pelo menos uma pequena biblioteca, para poder levar a leitura e o conhecimento as pessoas que carecem disto hoje.
    Sobretudo as crianças, populações mais empobrecidas e os trabalhadores.
    Parabéns ao seu Samuel e a Livraria da Vila.

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